Desigualdade estrutural e abandono do Estado alimentam crescimento da população em situação de rua

O Brasil alcançou um número alarmante: mais de 335 mil pessoas vivem atualmente em situação de rua, segundo dados recentes do Cadastro Único, analisados pela Universidade Federal de Minas Gerais. O levantamento, divulgado neste mês, revela um cenário de profunda vulnerabilidade social que se agravou nas últimas décadas.

Crescimento acelerado e realidade invisível

Em apenas uma década, o número de brasileiros vivendo nas ruas aumentou 14 vezes. Em março deste ano, foram registradas 335.151 pessoas em situação de rua, enquanto em 2013 o número não passava de 23 mil. A maioria é composta por homens (84%), adultos entre 18 e 59 anos (88%) e pessoas que sobrevivem com menos de R$ 109 por mês. Ainda mais preocupante é o fato de que mais da metade dessa população não concluiu o ensino fundamental ou não possui nenhuma instrução formal.

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Esse contexto de baixa escolaridade torna o acesso ao mercado de trabalho quase impossível, perpetuando o ciclo de exclusão. O retrato também escancara a desigualdade racial, já que a maior parte dessa população é composta por pessoas negras.

Sudeste concentra maioria e violência agrava a exclusão

A Região Sudeste abriga 63% de toda a população em situação de rua do país, sendo São Paulo o estado com o maior número absoluto. Sozinha, a capital paulista reúne mais de 96 mil pessoas nessas condições. As capitais do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Salvador também aparecem entre as cidades com maior incidência.

Paralelamente à exclusão social, cresce a violência contra essa população. Entre 2020 e 2024, o Disque 100 registrou mais de 46 mil casos de agressões, sendo metade nas capitais. Os números apontam que a maior parte das agressões ocorre em vias públicas, mas há também denúncias em espaços que deveriam oferecer acolhimento, como abrigos, hospitais e instituições públicas.

Falta de políticas efetivas e promessa de ação

A nota técnica da UFMG é categórica: as políticas públicas voltadas à população em situação de rua são inexistentes ou falhas. O documento acusa o Estado brasileiro de descumprir a Constituição ao não garantir direitos básicos como moradia, trabalho e educação.

Apesar disso, o Ministério do Desenvolvimento Social afirma ter retomado capacitações e reforçado ações de acolhimento desde 2023. Segundo a pasta, recursos estão sendo investidos em centros especializados que oferecem alimentação, higiene, apoio documental e assistência social.

No entanto, diante do avanço da miséria e da violência, especialistas apontam que tais ações ainda são insuficientes diante da urgência e da magnitude do problema.

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