Alta dos preços dos alimentos empurra famílias para escolhas difíceis e compromete alimentação básica no país
Com a escalada dos preços dos alimentos, mais de 70% da população brasileira afirma não conseguir completar as compras do mês no supermercado. O dado, obtido a partir de levantamentos recentes de institutos como o Datafolha e a Rede PENSSAN, revela uma realidade cada vez mais comum: o carrinho de compras está ficando mais leve, enquanto a conta no caixa continua pesada.
Inflação dos alimentos atinge o prato do brasileiro
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os produtos mais básicos da cesta — como arroz, feijão, leite e carne — acumulam alta significativa nos últimos meses. Em muitos lares, o que antes era básico se tornou luxo. Uma pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional mostrou que quase 33 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar grave.
“É um empobrecimento silencioso, mas constante”, afirma a economista Carla Beni, que estuda o comportamento do consumo popular. “As famílias estão substituindo alimentos por opções mais baratas, muitas vezes menos nutritivas, e isso compromete a saúde e o bem-estar a longo prazo”.
Famílias fazem escolhas difíceis para manter a alimentação
Além de cortar supérfluos, muitas famílias agora precisam escolher entre comprar alimentos ou pagar contas básicas, como água, luz e gás. Um levantamento do Instituto Locomotiva aponta que 68% dos brasileiros afirmam estar comprando menos comida do que compravam no ano anterior.
Esse cenário afeta, principalmente, trabalhadores informais, desempregados e famílias chefiadas por mulheres, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). A inflação de alimentos atinge com maior força os grupos mais vulneráveis da sociedade, aprofundando desigualdades históricas.
Especialistas alertam para impactos de longo prazo
A consequência mais grave dessa situação é invisível: a desnutrição progressiva. “Estamos lidando com uma bomba-relógio. Crianças que crescem sem os nutrientes necessários terão dificuldades cognitivas e de aprendizado”, alerta o médico e professor da UFRJ, Daniel Soranz.
A alta constante nos preços tem sido pressionada por fatores como a desvalorização do real, o custo dos combustíveis e os efeitos climáticos extremos, como secas e enchentes, que afetam a produção agrícola. A soma desses fatores impacta diretamente a oferta e eleva os preços no varejo.
Enquanto isso, programas sociais, como o Bolsa Família, têm sido insuficientes para compensar a perda de poder de compra. A discussão sobre um novo reajuste no valor do benefício tem ganhado força no Congresso, mas ainda sem definição concreta.