Ritual milenar marca o fim do pontificado e evita fraudes no nome do papa falecido
Após a morte de um papa, um gesto simbólico e solene marca o fim de seu pontificado: o anel do pescador é destruído diante dos cardeais. Esse ato milenar, realizado com um pequeno martelo de prata, não é apenas um ritual católico. Trata-se de uma medida prática e carregada de significado, que protege a integridade da Santa Sé durante o período de transição que antecede a escolha de um novo pontífice.
Herança de séculos: o simbolismo do anel do pescador
Criado no século XIII, o anel do pescador representa a autoridade papal e remete a São Pedro, primeiro papa da Igreja Católica, que era pescador antes de seguir Jesus. No aro dourado, encontra-se esculpida a imagem de Pedro lançando redes ao mar, acompanhada do nome do papa em latim. Ele é entregue ao novo pontífice logo após sua eleição e é usado para selar documentos oficiais, com cera vermelha, como forma de autenticação inquestionável.
Ao longo dos séculos, esse anel se tornou um dos símbolos mais reverenciados do papado. Por isso, sua destruição não é um simples capricho cerimonial, mas sim um ato de profunda relevância espiritual e administrativa.
Segurança, tradição e prevenção de fraudes
Com a morte do papa, a Igreja entra em sé Vacante, período sem liderança oficial até a eleição do sucessor. Para evitar que documentos sejam forjados em nome do pontífice falecido, o anel é destruído, inutilizando o selo que ele carregava. O mesmo ocorre com o selo de chumbo utilizado em bulas papais.
A cerimônia ocorre diante da Câmara Apostólica e do Colégio de Cardeais. O Camerlengo, autoridade responsável pela gestão da Igreja nesse intervalo, é quem verifica a morte e ordena a destruição do anel, para evitar abusos e garantir a lisura do processo sucessório.
Trata-se, portanto, de um gesto com valor jurídico, simbólico e espiritual, que demonstra o cuidado da Igreja com a transição entre pontífices e a proteção de sua autoridade.
Tradição que se mantém viva no século XXI
Mesmo com os avanços tecnológicos e a digitalização dos documentos, o rito de destruição do anel papal permanece inalterado, sendo observado rigorosamente em cada sucessão. Durante o falecimento do papa João Paulo II em 2005, o anel foi riscado com duas linhas em cruz. O mesmo ocorreu em 2013, quando Bento XVI renunciou — apesar de ainda vivo, seu anel também foi invalidado, reforçando a prática tradicional.
Mais do que uma formalidade, a destruição do anel do papa representa o fim de um ciclo e o respeito à memória do pontífice, preservando a integridade do cargo que ele ocupou.