Experimento arriscado de colecionador americano inspira descoberta científica com potencial global
Cientistas testam anticorpos em busca de cura universal contra venenos
Pesquisadores deram um passo ousado rumo à criação de um antídoto universal contra venenos de cobra, usando como base os anticorpos desenvolvidos por um homem que, ao longo de anos, foi intencionalmente picado por mais de 200 cobras. A pesquisa, considerada promissora, foi publicada na última semana na revista científica iScience.
Tim Friede, morador de Wisconsin, nos Estados Unidos, coleciona cobras e passou duas décadas se expondo ao veneno de espécies letais, como mambas, najas e cobras-corais. Sem qualquer tipo de supervisão médica, ele injetou pequenas doses controladas de toxinas em seu corpo, com o objetivo de construir resistência.
Anticorpos naturais revelam caminho promissor na ciência médica
Durante esse período, Friede enfrentou reações severas, como convulsões e febres, mas sobreviveu. Seu corpo, aos poucos, passou a produzir anticorpos capazes de neutralizar diferentes toxinas. Esses anticorpos foram isolados por cientistas e testados em camundongos. Os resultados surpreenderam: houve proteção contra venenos do grupo das elapídeas, que engloba algumas das cobras mais perigosas do planeta.
Hoje, os antídotos disponíveis são específicos para cada tipo de veneno e muitas vezes falham em diferentes regiões do mundo, onde as espécies variam. Isso dificulta o tratamento rápido e eficaz de picadas, especialmente em áreas rurais.
Nova esperança para combater milhares de mortes por ano
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 110 mil pessoas morrem todos os anos após serem picadas por cobras. A maioria das vítimas está em regiões sem acesso a tratamento imediato. Por isso, a possibilidade de um antídoto de amplo espectro é vista como uma revolução potencial no campo da medicina tropical.
Apesar dos avanços, a pesquisa ainda está na fase inicial. Os testes em humanos não começaram, e os anticorpos mostraram eficácia apenas contra elapídeas — não contra víboras, como jararacas e cascavéis. Ainda assim, os cientistas acreditam que o sangue de Friede pode ser a chave para terapias futuras mais abrangentes.