Um mergulho na história e nos significados dessa prática que encanta os brasileiros
O hábito de pular sete ondas no Ano Novo é uma tradição profundamente enraizada na cultura brasileira. Embora seja amplamente associada à busca por boas energias para o ano que se inicia, essa prática tem origens que remontam a influências religiosas e culturais específicas.
Raízes afro-brasileiras
A tradição de pular sete ondas está fortemente ligada às religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Nessas crenças, o mar é visto como uma entidade espiritual poderosa, muitas vezes representada por Iemanjá, a orixá das águas. Ao pular as ondas, o praticante estabelece um ritual de conexão com o mar, pedindo proteção e renovação. O número sete, considerado sagrado em várias culturas e religiões, simboliza perfeição, totalidade e equilíbrio.
Além disso, no contexto das religiões afro-brasileiras, o ato de pular ondas é uma forma de purificação e descarrego. O contato com a água do mar é visto como uma maneira de livrar-se das energias negativas acumuladas no ano que passou.
Influências da cultura portuguesa
A prática também encontra paralelos na cultura portuguesa, especialmente nos rituais de passagem de ano relacionados ao mar. Durante a colonização, elementos de crenças europeias se misturaram às tradições africanas e indígenas, criando um sincretismo único. Em Portugal, por exemplo, era comum associar a água ao renascimento e à purificação, conceitos que dialogam com o ato de pular ondas.
Popularização no Brasil
Embora a origem esteja vinculada a práticas religiosas, o ritual de pular ondas ganhou caráter laico ao longo do tempo. Hoje, é visto como um gesto simbólico de renovação, realizado por pessoas de diferentes crenças e culturas. No Ano Novo, o litoral brasileiro se transforma em palco dessa tradição, com milhões de pessoas vestidas de branco se dirigindo às praias para pular suas sete ondas e fazer seus pedidos para o novo ano.
Curiosidades sobre o ritual
- Algumas pessoas combinam o ritual com oferendas a Iemanjá, como flores brancas e perfumes.
- Cada onda pode ser associada a um pedido ou meta, reforçando o caráter simbólico do ritual.
- A prática não é exclusiva do Brasil, sendo observada em outros países de forte influência africana, como o Cabo Verde.
A força da tradição
O ato de pular sete ondas vai além de uma superstição ou hábito cultural. Ele reflete a diversidade e o sincretismo religioso que caracterizam o Brasil, evidenciando como diferentes crenças e práticas se entrelaçam na formação da identidade nacional. Para muitos, é um momento de reflexão, fé e esperança, uma forma de começar o ano com o pé direito — ou, nesse caso, com os dois pés na água.
Fontes
- Ministério da Cultura. “As tradições de Ano Novo no Brasil.”
- Rodrigues, M. “Sincretismo religioso no Brasil: uma análise histórica.” Revista de Estudos Afro-Brasileiros, 2020.
- Santos, A. “Iemanjá e o mar na cultura afro-brasileira.” Jornal da Cultura, 2018.